O filme começa em uma sala. Nick é um jovem com problemas mentais e está com seu tutor, que faz uma série de perguntas pessoais. Ele não se sente confortável, até que seu irmão mais velho, Connie, aparece e o tira dali abruptamente.
Connie e Nick assaltam um banco, mas não obtêm sucesso, já que o mais novo acaba sendo capturado pela polícia.
A trama de “Good Time” segue Connie, em sua jornada alucinante pela madrugada, atrás de dez mil dólares para libertar Nick.
Este é um filme que necessita de uma série de fatores para funcionar, e no fim das contas, funciona, muito bem por sinal.
A direção é crua, porém refrescante; lembra algumas obras oitentistas, mas é extremamente original. Os Safdies adoram close ups e Pattinson tem muito espaço para dar seu show. “Good Time” depende de sua atmosfera, há muita inquietação aqui, ninguém consegue relaxar, ninguém para quieto, é uma corrida sem fim, o filme é extremamente enervante.
A trilha sonora eletrônica é brilhante. Um elemento que ajuda na fluidez da trama e conversa diretamente com a fotografia neon. Sem dúvida alguma é uma das melhores da última década.
O roteiro é ótimo, cheio de imprevisibilidades, mas em determinado momento adquire uma barriguinha. Filmes como esse, não podem ter tantas “interrupções”. “Good Time” é uma porrada desenfreada, não deveria haver espaço para distrações.
Robert Pattinson está espetacular, seu personagem é interessantíssimo, o autêntico anti herói. Connie ama o irmão, isso é inegável, ele passa a noite desesperado atrás do dinheiro que o libertaria. Até mesmo o assalto tem um “lado positivo” por trás: a chance de uma nova vida, um recomeço, longe das amarras do passado e dos conflitos familiares. Mas Connie é desequilibrado, suas ações até tem boas intenções, mas são descabidas, imorais e burras. Ele é um criminoso. Connie parece ter tudo sob controle, o que na verdade é uma grande mentira, já que o personagem sempre tem que optar por um plano b, que também não dá certo.
É fácil vê-lo como um sujeito odioso, pegue por exemplo a cena em que ele entra na casa de uma estranha e abusa de sua boa vontade, levando até seu carro. Porém há algo forte ali também: um amor, um carinho enorme pelo irmão, que não tinha mais ninguém no mundo. Pattinson transmite emoções distintas, o ator dá todo um charme ao personagem, é difícil não gostar dele.
Benny Safdie também está excelente como Nick. Interpretar um doente mental requer sensibilidade, é fácil partir para uma interpretação apelativa e caricata. Safdie mostra muito controle, sua atuação é minimalista e não poderia ser diferente. Nick parece estar dopado em relação ao mundo, as coisas fluem em outra velocidade.
Sobre a trama, as adversidades são um prato cheio, a começar pela namorada de Connie, que só consegue falar sobre a viagem para a Costa Rica. Um relacionamento inexistente, em que os dois não conseguem fazer nada além de olhar para si. A conversa no táxi é uma disputa de egos assustadora. Enquanto Connie fala com o gerente do banco, a câmera fixa naquele cartão de crédito, que não funciona, criando uma tensão impressionante.
A cena no hospital é fantástica e o fato do protagonista pegar o cara errado foi uma grande sacada do roteiro, o problema está no desenvolvimento desse personagem.
O momento no parque de diversões também é super tenso e o trabalho de montagem, que intercala a briga de Connie com o guarda local e a iminente chegada dos policiais é fenomenal.
O grande problema está em Ray. A relação dele com o protagonista me incomodou bastante. Não há nenhum tipo de desenvolvimento, eles basicamente só se xingam. Mas tudo bem, um representa uma ponte para o outro. O verdadeiro problema está no segmento em que Ray conta como foi parar no hospital e todo o esquema do ácido. Em um filme eletrizante como esse, uma cena assim é uma verdadeira broxada. É desinteressante, chata e desnecessária. Sinceramente, o personagem não me interessou nem um pouco. Entendo a sua relevância para a trama, mas seu desenvolvimento é banal. Ray se limita a beber, dizer palavrões e “bro”.
O final pessimista casa muito bem com a estética proposta pelos diretores. Não seria justo Connie sair impune e mesmo assim somos pegos de surpresa.
Após tanto esforço, suor, brigas e discussões; acabar daquele jeito não é só surpreendente, mas uma maneira inteligente e inovadora de dizer que o crime não compensa. O filme deveria terminar ali, com Connie dentro da viatura, porém os Safdies optaram por mostrar Nick em uma instituição para doentes mentais, de fato o melhor lugar para ele. Mesmo assim, há uma melancolia forte no ar, simpatizamos com Connie, sabemos que ele ama o irmão e ver o final em que os dois não estão juntos acaba sendo triste, a missão não foi cumprida.
“Good Time” é um filme tenso, eletrizante e moderno, que funciona graças ao apuro estético, a direção visceral dos irmãos Safdie e a entrega total de Robert Pattinson, que prova a cada projeto, que é de fato um dos melhores atores de sua geração.
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